Dry Falls
por Lou Antonelli & Jerry Wright (EUA), tradução de Flávio Medeiros Jr.
— Feche a merda da porta, pode ser?
— Desculpe, acho que nem percebo mais o rugido.
— Era de se esperar, você é um hidrólogo.
— Eita, você está nervosinho. Calma aí.
Don Tabor ergueu as mãos num gesto de súplica, enquanto se voltava para bater a porta.
Ela fechou com um baque metálico, abafando o som de quatro milhões de galões por segundo que despencavam nas cachoeiras.
— Você precisa relaxar, Ken.
Whitcher virou—se na cadeira.
— A culpa é de vocês, dizendo que talvez tenhamos apenas uma semana antes de ir embora.
Don sentou—se na sua frente.
— Bem, a velocidade do fluxo indica claramente o enfraquecimento. A barreira de gelo deve flutuar e se romper a qualquer instante. Infelizmente é assim.
Ele esticou a mão através do quadrado de luz solar do Pleistoceno Superior, que descia através da claraboia de armoglás, e cutucou levemente o braço do paleoantropólogo.
— Não se preocupe. Você se saiu bem, realizou muita coisa.
Ken o encarou e mordeu o lábio.
— Eu acho que esse é o ponto, e o problema. Eu consegui quase tudo que vim procurar, mas vou voltar sem a menor pista do marcador genético da Linhagem X.
— Você estava limitado pelo alcance geográfico que foi capaz de percorrer. As tribos que está procurando estão, provavelmente, em outro lugar.
O hidrólogo levantou—se e olhou pela janela, ignorando o abismo. Ken correu os dedos por entre os cabelos ralos e franziu os lábios, enquanto relaxava na cadeira.
— Eu sei que, no final, isto foi um sucesso — disse. — É só que, para mim, esta era a chance de uma vida…
Don descruzou os braços e falou num tom casual, enquanto sorria e passava deliberadamente os dedos por seu cabelo grisalho:
— Ei, você é jovem. Ainda é um aluno de pós—graduação. Tenho trinta anos a mais que você… Droga, quem sabe o que vai acontecer nos próximos anos?
Ken apontou a caneta—laser na direção da escrivaninha do líder da equipe, nos fundos da sala.
— Sim, mas tudo indica que eles estão prontos para encerrar essas viagens.
Ensaiou alguns rabiscos com a caneta—laser na tela de seu laptop, mas logo desistiu.
— Só estou frustrado.
Ele se levantou e apoiou—se no ombro de Don, enquanto caminhava para a janela lacrada, de folha dupla, que dava para as grandes cachoeiras.
O módulo de pesquisa científica descansava num platô, no lado oeste da cascata. Uma série de arco—íris — cinco ou seis, dependendo do quanto acurada sua visão fosse — emergiam do fluxo da catarata, como os arcos de um palácio encantado. O arco—íris mais distante estava apagado pela neblina que emanava da cachoeira de 6,5 quilômetros de comprimento, que ocupava toda a extensão do vale.
***
— Esse negócio não é maior que um Segway.
Ken limpava a poeira das roupas, enquanto caminhava em direção ao paredão de rocha.
— Sim, bem, parece um Segway porque você pilota de pé.
Penny Reddington colocou algumas amostras de sílex numa sacola de plástico trançado e puxou o cordão.
— Você deveria subir assim, é um bom exercício — ela moveu os braços como se estivesse correndo.
— Acho que, quando eu tiver sua idade, terei que me preocupar com minha saúde.
— Ui! Ai! Sua traça de livros antropomórfica e flácida…
Ela atirou uma pedrinha na direção dele, que se esquivou fingindo alarme.
— Eu te vi lá de baixo, quando estava voltando, e pensei em dizer um oi. Tive outra conferência com Bloody Mary.
Ele apoiou uma mão no paredão de rocha e fungou algumas vezes. Podia farejar alguma coisa botânica exalando do cabelo loiro dela. Ela o encarou e ergueu as sobrancelhas.
— Não me diga que, depois de um ano no Pleistoceno, você ainda tem shampoo.
— Cathy McWhorter, a botânica da UT, exalando um purificador capim—limão e babosa. Soa bem, eu acho.
— Sabe, eu tenho um espacinho aqui atrás, caso você precise de uma carona na volta.
— Claro, e eu vou balançando como um saco de batatas na sua traseira.
Ela ergueu os olhos e viu uma expressão de mágoa no rosto dele.
— Eu não pretendia que soasse assim…
— Eu só estava tentando ajudar — Ele se voltou para ir embora.
— Ken…
Ele parou.
— Ainda não terminei aqui. Obrigada pela oferta. De verdade.
— Tudo bem. Te vejo de volta no módulo.
Ele começou a se afastar, mas parou quando ela sorriu.
— Ei, eu te alcanço mais tarde.
Ele forçou um pequeno sorriso que a fez sentir—se mal.
***
Após se estranhar com Don de manhã e bancar o bobo com Penny à tarde, Ken decidiu que precisava de ar fresco. Escapuliu da área do módulo logo ao anoitecer, e desceu em direção às margens do vale, onde poderia afogar seus pensamentos no rugido constante das cataratas.
A autorização para o projeto de pesquisa, financiado pela “Time Out Travel”, restringia a presença dos cientistas à área que ficava imediatamente em torno do que seriam as Dry Falls no presente — a área de Grant County/Sun Lakes, no que costumava ser o estado de Washington.
Essa área também era — no presente — a terra de ninguém onde as fronteiras da Pacifica Republic, dos Estados Unidos e do movimento separatista Aryan’s Army se confundiam.
Claro, não existia um governo americano de verdade. Depois que a recém—surgida “singularidade” computador/humano implodiu em 2037, os libertarianos meteram o pé na jaca, e reorganizaram o governo e a sociedade numa tapeçaria cheia de camadas de comitês, companhias e organizações sobrepostos, de modo que jamais corressem risco de novo.
A anarquia da diversidade garantiu que jamais houvesse uma unidade novamente — governamental ou de outra espécie — que uma singularidade imanente pudesse usar para “decolar”.
Mas a descoberta, nos anos 40s, de como criar buracos—de—minhoca temporais, resultou num dos poucos consensos unânimes possíveis na sociedade: o de que a tecnologia era potencialmente perigosa demais para não ser policiada.
O Comitê Consultivo de Cidadãos trouxe a ideia de licenciar o turismo transtemporal como forma de arrecadar fundos para pesquisa científica — desde que não houvesse mais coisas do tipo “subvenção governamental”.
A recomendação inicial do comitê era a do licenciamento para uma excursão relativamente breve à última Idade do Gelo; a lógica era minimizar qualquer dano colateral em potencial do tipo Efeito Borboleta, recuando o buraco—de—minhoca alguns milhares de anos.
“E para nos manter na rédea curta”, pensou Ken, enquanto admirava as cataratas. Os cientistas foram orientados a não viajar para mais de 160 quilômetros além das Dry Falls.
Era irônico que eles ainda as denominassem assim no último ano, pensava Ken. Eram quatro vezes mais volumosas que as Niagara Falls, e duas vezes mais altas. O precipício de água trovejante parecia um lago partido ao meio, ele observou.
Sua família atravessou a “Crise de 37” relativamente bem, e pôde bancar sua ida para Columbia, que, como uma grande universidade privada, passou relativamente ilesa pela Transição Libertariana.
Ele estava vagando distraidamente perto da Biblioteca Low, quando olhou por sobre o ombro de um aluno sentado nos degraus, que lia um panfleto.
“Cachoeira Gigante da Idade do Gelo será Atração em Viagem no Tempo.”
Ele enfiou um cartão de débito no quiosque de notícias mais próximo e agarrou o panfleto que saiu. Leu como o Comitê Consultivo de Cidadãos tinha concordado em liberar um Licenciamento para Buraco—de—minhoca para a “Time Out Travel”. Foi quando ouviu falar, pela primeira vez, no Lago Missoula, nas Chanelled Scablands e nas Dry Falls.
Ele rapidamente foi procurar informações no Departamento de Geologia. O graduando assistente estava às voltas com amostras de rocha, trazidas dos pântanos onde uma vez estivera a Plataforma de Gelo Ross. Não havia prestado atenção às notícias. Quando Ken lhe relatou as novidades, ele riu.
— Isso é hilário. A área é tão pobre, geologicamente, que ninguém vai ligar se a borboleta cagar nela ou detoná—la com C—4. É difícil que piore… e sempre foi ruim.
O estudante sentou—se no refeitório e brindou Ken com um breve histórico.
As mesmas forças sob o manto terrestre que criaram os vulcões recentemente ativos, como Santa Helena, Hood e Rainier, expeliram ondas maciças de basalto 15 a 10 milhões de anos atrás, cobrindo cem mil quilômetros quadrados no Noroeste da Costa do Pacífico.
De fato, o peso de todo aquele basalto causou uma depressão na crosta terrestre — a bacia do rio Columbia.
— Tudo começa cerca de um milhão de anos atrás, quando a mais recente Idade do Gelo se iniciava, o grande manto de gelo descendo do Canadá — disse o estudante, bebericando um café rançoso. — Um braço da massa de gelo continentalescorreu entre a bacia do Columbia e as planícies de Montana. Ele interrompeu a drenagem natural da Divisória Continental e do Panhandle do Idaho para o Pacífico.
Ele limpou a marca da xícara no tampo da mesa.
— A barragem de gelo formou um lago, assentado onde hoje fica Missoula. Pelo que sabemos, no seu auge ele continha mais água que os lagos Erie e Ontario juntos, se estendia por 320 quilômetros para o leste, e acumulava mais de 800 quilômetros cúbicos de água contidos pela barragem de gelo.
— Mas o que isso tem a ver com o Chanelled Scablands e as cataratas gigantes?
— Bem, gelo flutua — disse o estudante, elevando sua xícara acima da mesa. — Eventualmente o lago se enche ao ponto em que o bloco de gelo começa a boiar. Assim que o fundo perde o contato com o leito de rocha, a barragem de gelo se rompe, e toda aquela água corre para o Pacífico, centenas de metros de profundidade a 100 quilômetros por hora.”
O estudante de Geologia bufou.
— Aqueles desfiladeiros e cânions foram criados pelo lago se enchendo e derramando aproximadamente vinte a quarenta vezes durante a última Idade do Gelo.
***
Um rinoceronte felpudo, que alguns paleobiólogos alimentavam, urrou.
Ken viu Penny caminhar para dentro do cercado. Diferentemente de outros membros da equipe, ela não procurava evitar o zoológico barulhento e fedido onde os rinocerontes felpudos, mastodontes, smilodons e ursos—de—cara—achatada, além do resto da megafauna, viviam por trás de sólidas barras de metal.
Ela entrou na área isolada e deu tapinhas alegres no casco de um gliptodonte, ao passar por ele. A criatura semelhante a um tatu, mas do tamanho de um carro, fez um som que lembrava o espirro de um cavalo.
Ela sentou—se numa saliência e começou a retirar suas botas de caminhada.
— Eu disse que te alcançaria.
Ele apenas grunhiu. Ela se inclinou para trás, apoiando—se nas mãos espalmadas.
— Ken, o que é que está pegando?
Usar seu primeiro nome o deixou desconcertado.
— Tenho um monte de coisa concluída, mas o enigma da estúpida Linhagem X me escapa completamente.
— OK, agora você precisa traduzir esse seu vocabulário paleoantropológico. O que isso quer dizer?
— Uma das grandes questões que se apresentam a qualquer um que estude a pré—história norte—americana é se a população nativa era predominantemente de origem asiática, ou se houve também migrações de populações caucasoides através da Ásia para o Novo Mundo.
Ken continuou, enquanto Penny concordava com a cabeça e retirava suas meias.
— Cerca de cem anos atrás, quando a tipagem sanguínea e a análise do DNA começaram a se popularizar, biólogos descobriram que a maioria dos índios norte—americanos possuem uma forte mistura do que nós, por outro lado, consideraríamos genes europeus. E o DNA encontra—se muito distribuído e muito bem misturado para ter ocorrido em apenas 400 anos de colonização europeia. A suspeita é de que alguns povos caucasoides, assim como mongoloides, migraram para oeste a partir da Ásia, através da Beríngia.
Ele exibiu um sorriso matreiro.
— Algumas tribos de índios das planícies e do noroeste aparentavam ser quase metade caucasianas. Isso pode ter contribuído para sua assimilação. Se um colonizador tivesse filhos com um nativo da planície que já fosse metade caucasiano, sua prole, na primeira geração, já seria três—quartos branca.
— Soa como conversa fiada dos Arianos de Idaho — disse Penny, enquanto fixava uma gominha em seu rabo—de—cavalo.
— Sim, mas os testes de DNA, na virada do século, confirmaram isso, especialmente quando encontraram o marcador mitocondrial da Linhagem X.
— Lá vamos nós para a gíria nerd — ela disse.
— Existe um marcador genético mitocondrial raro, encontrado em algumas tribos indígenas e em nenhum outro lugar no mundo… exceto em alguns judeus, finlandeses e italianos.
Ele baixou o olhar para ela.
— Ninguém mais parece ter esse marcador. Nem na Rússia, nem na maior parte da Europa, e em nenhum outro lugar nas Américas.
Ele sentou—se ao lado dela.
— Esse é o maior enigma de todos. Mesmo assumindo que haja ocorrido alguma migração da população caucasoide através da Europa e da Ásia para o Novo Mundo…
Ele lançou o olhar para além do paredão formado pelo fluxo maciço de água. Um pôr—do—sol incrível se iniciava, só levemente ofuscado pelas insignificantes luzes dos intrusos do século XXI.
Penny compreendeu onde ele pretendia chegar.
— Você esperava encontrar o marcador em alguma das populações monitoradas.
Ken suspirou.
— Mas este é o último período da Idade do Gelo, e ainda não há sinais do marcador da Linhagem X… Na verdade, absolutamente nenhum gene caucasoide, nas populações locais.
— Você deve ter pensado que esta seria uma área promissora para procurar.
— Com certeza. As tribos desta área foram consideradas as de aparência mais europeia pelos primeiros colonizadores. Esqueletos não—mongoloides foram encontrados no Colorado, Nevada, Minnesota e Kennewick, que ficam no máximo 160 quilômetros ao sul daqui, na área da moderna bacia do rio Columbia.
Ela franziu as sobrancelhas e o encarou.
— Você faz meu cérebro doer. Fica me devendo por eu ter de escutar isso.
Saiu naturalmente:
— Que tal eu te pagar um jantar?
***
— Na primeira vez em que vi aquele logotipo eu estava em Nova Iorque, e pensei que ia vomitar.
Eles caminharam por trás do logo da “Time Out Travel”, os dois “T”s desenhados como um casal reclinado, com os braços atrás das cabeças, cotovelos para fora, e um mostrador de relógio analógico engraçadinho, de desenho animado, como “O”.
Ela segurou a mão dele ao entrarem no restaurante, para mostrar que estavam juntos. Ele percebeu.
O hotel “Feito de Brumas” era um pedaço de pretensão de três andares, de vidro e cromo, decorado ao fajuto estilo cyberpunk Reagan—retrô.
Gravuras em preto—e—branco de ícones dos anos 80s, como Wendy O. Williams e James Watt, alternavam—se ao longo das paredes com telefones de disco, revistas impressas e toca—discos.
O Comitê Consultivo de Cidadãos havia concordado em permitir que a “Time Out Travel” atendesse os estupidamente ricos que desejassem essa “excursão de uma vida”, em troca de verbas generosas para bancar pesquisas científicas.
Assim que Ken e Penny entraram no restaurante avistaram Don, que acenou para eles e apontou para alguns assentos.
— Droga, Ken, você está sorrindo. Eu lhe disse ontem que a maré ia virar.
A acompanhante de Don era Dilys Evans, uma ictióloga de água doce, natural do País de Gales.
— É bacana vir aqui de vez em quando, socializar com os endinheirados — falou Dilys.
Ken olhou ao redor.
— Pelo que ouvi, a estadia custa um milhão de dólares por semana.
— Parece que sim — disse Don. — São uns babacas, mas pagaram por este lugar, assim como pelo nosso projeto.
Ele farejou enquanto um garçom preparava fajitas de mamute grelhado na mesa ao lado. Penny riu.
— Você não esperava que o governo pagasse por isso, esperava, Ken?
— “Eles num são camarada ma’não” — resmungou Don, imitando um Ariano de Idaho. Todos riram.
Penny reparou que Ken nem havia olhado para o menu.
— Você já sabe o que vai querer?
Ele baixou os olhos para o retângulo pela primeira vez e pressionou o X no canto inferior direito, para desligá—lo.
— Ah, eu nem preciso olhar. Quero um daqueles filés de mamute, em que os ricaços da República do Texafados estão chafurdando.
Mais risos.
Após o jantar caminharam pelo calçadão, onde todos esperavam pelo acender das luzes.
O “Feito de Brumas” ficava numa ilha do rio, abaixo das cachoeiras. Mesmo à distância o ar ficava carregado com as brumas, e todos precisavam elevar o tom de voz para serem ouvidos.
Quando as sombras se adensavam e o abismo caía na escuridão completa, canhões de luz acendiam na torre do hotel e brincavam na cortina d’água uma milha acima.
— Pode ser a qualquer dia, agora — disse Don. — Isso não passa de uma goteira, podem acreditar. Quando o alerta vier do posto avançado, vamos cair fora. A correnteza vai ser tão grande, em vez de uma cachoeira de 120 metros, que vai ser uma sorte perceber uma leve ruga que seja no lençol d’água que vai varrer o terreno a caminho do Pacífico.
A “Time Out Travel” havia interrompido as viagens para os próximos meses, justo quando a barragem de gelo começava a ceder e as cataratas atingiriam seu fluxo mais espetacular. Uma estação fora montada no alto do maciço de gelo glacial sobre o lago Missoula, onde um punhado de cientistas observava a barragem de gelo, testando—a diariamente e se preparando para dar o alarme quando o rompimento fosse iminente.
— Certamente vai ser um arraso — disse Ken.
— Quando eu era garoto eles testaram o Mars Rover ali adiante, o terreno é bastante árido — disse Don.
— Sim, eu assisti o vídeo quando a “Time Out Travel” estava levantando fundos para a primeira inserção do buraco—de—minhoca — disse Dilys.
— Nós marchamos para cima e para baixo pelas Scablands por alguns dias. Brrrr. Parecia outro planeta. Terreno plano coalhado de arbustos, e ocasionais rochas grandes como ônibus. Em algumas das áreas ribeirinhas, se você imaginar que aquelas colunas de basalto são cor—de—rosa, você pensaria que está em Marte.
— Eu recolhi amostras perto dessas colunas de basalto enfileiradas, — disse Penny. — Resfriamento magmático diferencial. Elas têm seis, nove metros de altura, e laterais bem lisas. Parece uma gigantesca cerca de pedra.
— Isso mesmo, — disse Don. — Quando a barragem estourar, vai arrastar tudo exceto o que estiver realmente firme, e vai remover rochas de quarenta toneladas como se fossem cascalho.
— O que acontece, só por curiosidade, se não recebermos nenhum aviso? — perguntou Ken.
— Bem, você encara uma onda de trezentos metros de profundidade a 100 quilômetros por hora e faz o melhor que puder — disse Don.
— Jamais esquecerei este ano, — disse Dilys. — Espero ter a chance de retornar depois.
— Pelo que eu ouvi, é cada vez mais provável que o Comitê Consultivo de Cidadãos recomende o encerramento do programa — disse Don. — Não que se importem, mas Pacífica os está pressionando para valer.
— Eu compreendo a posição de Pacífica — disse Penny. — Eles não gostam que avacalhem o meio—ambiente… passado ou presente.
Don respondeu:
— Bom, o povo a leste das Cascades sempre tiveram filosofias diferentes daquelas do povo do oeste. Chegou a existir um movimento para dividir Washington em dois estados. Acho que a turma do leste se deu bem. Eles sempre gostaram dos Libertarianos.
— Eu me preocupo mais com a República do Texas botando suas mãozinhas perversas na tecnologia — falou Ken.
— Sim, eles vão voltar e vencer o Álamo — riu Don.
— Bem, vocês têm de admitir que Pacífica tem suas razões — disse Ken. — Um regime Libertariano dificilmente terá os recursos ou a inclinação nesse sentido, de proibir transferências perigosas de tecnologia.
— Nunca subestime a GKB — resmungou Don.
— O que é a GKB? Quer dizer, já ouvi falar da antiga KGB. O que é GKB? — indagou Dilys.
Don olhou ao redor.
— Desculpe, meu pequeno dente de alho—poró galês, esqueci que você não é destas bandas. A Gordan Kahl Brigade. Uma milícia privada baseada em Denver, recrutada pelos caras lá no que sobrou de Washington para fazer seu trabalho sujo.
Ken olhava desconfiado na direção das cachoeiras. Ele apontou um dedo e atraiu a atenção de Don.
— Sim, eu sei o que você está vendo — disse Don. — O fluxo está definitivamente aumentando. A barragem de gelo deverá flutuar e se despedaçar a qualquer dia agora.
***
Ken enfiou a cabeça no cubículo de Penny.
— Ei, vou fazer uma última visita à aldeia de Bloody Mary. Quer vir?
Penny saltou de pé.
— Você conseguiu permissão para usar o Ospray?
— Sim, e um piloto também. Falei com Dilys e Don, e eles também querem ir.
Ela puxou um sweater sobre a cabeça.
— Parece que somos um quarteto.
— Bom, Dilys acredita que ainda haja alguns peixes em alguns dos riachos superiores, e quer checar.
Eles caminharam passarela abaixo.
— Parece que você está aceitando a forma como as coisas terminaram.
— Sei lá, acho que estou tentando não pensar no assunto. Talvez minhas expectativas tenham sido exageradas.
— As pessoas que você procura provavelmente ainda estão na Ásia ou no Alasca. Pelo que você disse, o marcador da Linhagem X ainda estava concentrado no Noroeste do Pacífico e nas Planícies, nos tempos modernos.
O piloto do Osprey era um Trans—tech que sequer chegou a se desconectar dos controles. A aldeia de Bloody Mary ficava 48 quilômetros além do topo do platô acima do vale, poucos quilômetros distante do local onde a grande represa seria construída milhares de anos depois.
O piloto permaneceu junto ao rádio enquanto Dilys se embrenhava nas margens de um riacho próximo, com Don a reboque. Penny encostou—se num tronco, enquanto Ken conferenciava com Bloody Mary.
Ele a apelidara assim devido a seus traços polinésios. Ela era baixa e atarracada, e rebolou para fora da tenda metida em um belo traje de pele de veado, enfeitado com miçangas de turquesa. Seu cabelo negro estava puxado para trás num coque apertado, atravessado por um fragmento do fêmur de um inimigo que ela havia matado na juventude.
Era uma mulher temível, sendo chefe numa sociedade patriarcal, e Penny observou, fascinada, como Ken falava com deferência, agachado, mas não sentado — um sinal de respeito.
Ken era fluente no dialeto Salish Interior, que não havia mudado muito em doze milênios, e falava rapidamente com a entonação cantada que Penny não compreendia.
Bloody Mary ora grunhia, ora falava profundamente com a mão erguida. Após dez minutos eles terminaram, e Ken retornou.
— Alguma sorte com a chefona?
Ele sorriu para ela.
— Vamos nos mover para sudoeste, em direção ao moderno Vale do Rio Columbia. Ela afirma que as pessoas ao longo daquele rio são diferentes.
— Você não parece muito otimista.
Penny recostou—se, com os braços cruzados.
— Não estou. Vamos tentar por uns dois dias — ou menos, se encontrarmos algo — e depois voltamos.
***
Na manhã seguinte o Osprey ergueu—se num turbilhão de poeira, e movimentou—se para adiante quando os rotores inclinados travaram na posição horizontal. Quando chegaram aos 610 metros de altitude, o piloto olhou nervosamente para o norte.
— Particularmente não gosto do aspecto do céu daquele lado.
— O inverno está chegando — disse Don, inclinando—se para a frente.
— Que merda é aquela? — O piloto comprimia os olhos por trás dos óculos escuros.
Todos olharam na mesma direção e viram o que parecia ser uma onda de turbulência deslocando—se na direção deles.
— Turbulência atmosférica — ele murmurou. — Vamos subir.
O Osprey estava subindo por três minutos, e estava a quase 1500 metros quando a turbulência os atingiu.
Todos usavam cintos, mas balançaram como se estivessem em cordas de bungee jump. Cada lâmpada ou alarme apagou—se no Ospray, enquanto o braço do piloto que segurava o joystick voava como a baqueta de um regente de orquestra.
— Foi bom conhecer vocês, pessoal — ele gritou, acima do barulho.
No tumulto, Ken desmaiou momentaneamente. Quando voltou a si, viu que Don havia sido nocauteado depois de bater a cabeça na fuselagem. Penny e Dilys choravam.
— Nós vamos cair? — ele gritou para o piloto.
— Sim, — o piloto gritou de volta — o melhor que posso tentar é uma queda controlada.
Um minuto depois, aconteceu.
***
A força do impacto esmagou o piloto na parte da frente do aparelho. Ken teve o ombro esquerdo deslocado, e Penny torceu o tornozelo. Dilys parecia ter escoriações, mas de resto estava inteira, e ela ajudou a carregar Don para fora enquanto Penny descia cuidadosamente.
Ken empurrou o corpo do piloto para o lado e alcançou o rádio. Começou a girar alguns botões.
— Considerando a pancada que levamos, temos sorte em estar vivos. E o rádio ainda funciona.
Ele introduziu um plugue num ouvido e escutou, com ar concentrado.
— A bateria não tem energia suficiente para fazermos contato, mas posso ouvi—los. Eles perderam contato com o posto avançado acima do Lago Missoula.
— Não diga — Penny fez uma careta, segurando o tornozelo. — A barragem de gelo deve ter estourado.
— Mas eles estavam no alto de uma geleira de proporções alpinas sobre o lago — disse Dilys. — Mesmo que a barreira rachasse abaixo deles, estavam uns 600 metros acima.
— Pensem no assunto — Ele voltou—se para o grupo. — O que vocês acham que nos atingiu?
Penny ergueu os olhos.
— Aquilo foi uma onda de choque!
Dilys tentava fazer Don recuperar a consciência.
— Ninguém pensou no que aconteceria se a barreira explodisse violentamente.
— A explosão deve ter arrancado o posto da montanha — disse Ken. Ele pressionava sua mão contra a lateral da cabeça. — Os caras no Projeto estão abrindo o buraco—de—minhoca e caindo fora.
— E quanto a nós? — indagou Dilys.
Ele olhou para as duas em sequência.
— Nós estamos ferrados.
***
Retiraram o corpo do piloto das ferragens e esperaram. Pelas duas horas da tarde, todas as transmissões de rádio da expedição cessaram.
— Eles sequer tentaram fazer contato conosco — murmurou Ken.
— Você os culpa? — indagou Dilys — Eles provavelmente estão em pânico.
— Com certeza é o fim desse projeto — disse Don, meio grogue. — Depois deste fiasco, duvido que autorizem outra expedição.
— Você acha que alguém vai tentar nos resgatar? — perguntou Dilys.
— Dilys, eles nem sequer sabem onde estamos — respondeu Penny.
— Nossos suprimentos vão durar algum tempo — disse Ken, — e acho que deveríamos voltar ao módulo científico e ver o que podemos salvar. Vai ser mais ou menos uma semana de marcha, mas podemos ficar lá durante o inverno, antes de decidirmos o que faremos na primavera.
— Como está o ombro? — perguntou Penny.
— Obrigado por me ajudar a colocar de volta no lugar, mas acho que lesou algum nervo — disse Ken. — Não consigo movimentar ou sentir muita coisa.
— Bom, talvez melhore.
Dilys resmungou um palavrão galês e chutou um pedregulho. Ken sentou—se de um golpe.
— Mandans!
Penny ergueu os olhos da tala que improvisava.
— Meu Deus, acabo de pensar na mesma coisa!
— O que são “Mandans”? — indagou Dilys.
— Os primeiros exploradores que chegaram às Grandes Planícies, no começo do século XIX, dizem ter encontrado uma tribo no que agora é Dakota do Norte, que tinham cabelos claros e falavam uma língua que os ingleses do grupo diziam que fazia lembrar o galês.
Ken continuou:
— A doença os dizimou antes que pudessem aprender muito mais.
Dilys apoiou a cabeça no próprio punho.
— Olha, eu diria, Kenneth, meu velho, que no final das contas você encontrou o que procurava.
Penny parecia atordoada.
— Estava aí o tempo todo. O marcador da Linhagem X.
Ela balançou a cabeça em sinal de compreensão.
— Eu nunca cheguei a mencionar, mas minha mãe era finlandesa. Daí veio esse meu cabelo loiro.
Ken encarou um por um e arrancou os óculos, esfregando o rosto.
— Meu sobrenome, Whitcher, é um anglicismo em cima do nome italiano “Viciari”. Meus bisavós imigraram da Itália.
Don havia se levantado e retirado uma pá do kit contra incêndio florestal no Osprey.
— Vamos enterrar esse cara e seguir em frente com nossas vidas… Seja lá o que nos espera.
***
Eles passaram os três dias seguintes salvando tudo que puderam do Osprey. Encheram suas mochilas e esconderam o restante em cavernas próximas, marcadas com um símbolo sagrado Salish.
Demoraram dez dias para atravessar o terreno até Dry Falls, e a esse tempo a enchente já havia recuado. O vale estava arrasado, e não havia sinal do “Feito de Brumas”. As cachoeiras estavam reduzidas a uma goteira, e logo secaram completamente.
O módulo científico, suspenso acima do vale, estava intacto. Laptops, papéis e palmtops espalhados indicavam uma retirada rápida. A porta estava fechada, mas destrancada.
Os quatro entraram, e algo atraiu a atenção de Don na periferia de seu campo visual. Ele se voltou e viu um quadrado de papel amarelo colado do lado de dentro da porta.
Não estava assinado, mas era nitidamente a caligrafia do gerente do Projeto. Don segurou—o entre os dedos como se fosse uma borboleta e leu:
“Desculpem. Boa sorte, Deus os abençoe, e tentem não provocar muitas anomalias temporais.”
— Aposto que ele estava com pressa — disse Ken, tomando—lhe a nota.
Penny deixou cair sua mochila.
— Bem, e agora?
Ela se encolheu quando uma lufada de ar frio entrou pela porta.
— Acho que devemos manter nossos quartos. Podemos perfeitamente passar o inverno aqui — disse Ken. — Eles provavelmente deixaram a comida para trás. Feche a porta para nós, Don.
— Acho que podemos completar nossos registros, imprimi—los e guardá—los em algum lugar — disse Dilys.
— Alguma coisa para fazer — disse Ken, sentando—se e esfregando seu braço entorpecido. Don sentou—se ao seu lado.
— Talvez eles procurem os registros agora, no século XXI, já que sabem o que aconteceu — ele disse.
O suspiro de Ken saiu levemente trêmulo.
— Duvido que qualquer coisa dure doze mil anos.
— Bem, sei de uma coisa que durou até o século XXI — disse Penny, agarrando a mão de Ken e puxando—o de seu assento. — É hora de começar a propagar a Linhagem X.
***
Os suprimentos remanescentes foram mais que adequados para o inverno, e os painéis solares providenciaram a energia, de forma que, por seis meses, eles viveram como que numa bolha do século XXI na Idade do Gelo. Em março foram surpreendidos ao receberem um visitante, um jovem guerreiro da aldeia de Bloody Mary. A tribo havia enviado um batedor para verificar se algum dos estrangeiros havia sobrevivido ao inverno. Eles sabiam que o módulo científico ainda estava habitado, e em seu leito de morte — pois o inverno havia sido severo — Bloody Mary instruiu os demais anciãos a perguntar aos estrangeiros se eles gostariam de se juntar à tribo.
Quando o bravo encontrou o quarteto, a matriarca já havia falecido. Os quatro cientistas sentaram—se para conversar, enquanto o guerreiro sentou—se a um canto, os olhos arregalados.
— Está tudo bem para mim — disse Dilys. — Posso viajar pelo menos até a aldeia deles e ter o bebê lá. Se for o caso, podemos seguir viagem depois.
— Com as camadas de gelo sofrendo seu recuo final para o norte, esta região vai secar progressivamente pelas próximas centenas de anos — disse Don. — Tenho certeza de que a tribo vai emigrar.
— Bem, os Shoshone e as tribos a eles relacionadas viveram em Idaho e nas Planícies do Oeste — disse Ken. — Acho que é onde seus descendentes vão terminar, no final.
— Não podemos ir a lugar nenhum por enquanto — ele acrescentou, acariciando o ventre de Penny. — E eu com esse braço aleijado…
— Você seria capaz de me ensinar Salish o suficiente para me virar?
— Ah, com certeza posso fazê—lo em algumas semanas, enquanto você se apronta.
Don voltou—se para Dilys.
— E quanto a você? Topa?
— Tudo bem. Mas você fala. Não sou boa com idiomas.
— Talvez você possa exercitar isso, ensinando galês a nossa nova tribo…
Todos riram.
— Na verdade, sei que você fará isso — disse Ken, sorrindo. — Deem—me um minuto para explicar ao nosso amigo ali.
O bravo levantou—se e Ken falou com ele. Penny segurou seu braço.
— A propósito, qual o nome desse rapaz?
— Eu não perguntei, e acho que ele estava muito apavorado para dizer. Espere um segundo. — Ele transmitiu a pergunta ao índio.
O jovem falou claramente, para o espanto de todos:
— Man—Dan.
***
Algumas semanas depois, Don e Dilys partiram para se unirem à tribo. Ken e Polly ficaram no módulo pela próxima década, e tiraram proveito dele ao máximo. Mas as paredes começaram a sofrer infiltrações, e os painéis solares falharam e quebraram. Eles agora tinham três crianças para ajuda—los na viagem de volta ao local onde o Osprey havia caído, que se tornaria o vale do Rio Columbia.
Na manhã em que partiram, atearam fogo ao edifício arruinado, que rapidamente implodiu e foi consumido. Naquela noite as cinzas se espalharam pelo vale, onde as cachoeiras estavam, agora, completamente secas.
Os restos do Osprey estavam encobertos, mas praticamente intocados. Os indígenas locais consideravam “tabu” o local da “estrela caída”. Eles recuperaram os suprimentos que haviam escondido antes e armaram seu acampamento, que se transformou numa aldeia quando seus filhos cresceram e trouxeram esposas e maridos das tribos vizinhas.
Três décadas depois, desgastado pelo trabalho e por seus ferimentos antigos, o Chefe Olhos Fracos recolheu—se a seu estrado coberto de abetos e folhas de pinheiro, e deitou—se para morrer enquanto sua primeira esposa segurava sua mão.
— Você ainda está gatona, garota — Ele riu suavemente, enquanto falava numa língua que seus filhos mal compreendiam. — Desculpe por te deixar na mão.
Ela acariciou seu rosto.
— Vou ficar bem.
— Por favor, enterre—me com vista para o rio. Sinto—me melhor de alguma forma, pensando que, daqui a milhares de anos, pessoas como nós virão viver neste vale e contemplar o mesmo rio.
Sol no Cabelo enxugou sua testa quando ele gemeu.
— A vida é engraçada. Sou um cara de sorte, pensando na época em que chegamos aqui com a expedição. No final, consegui o que eu queria.
Ela deixou escapar uma risada.
— Está falando da solução do mistério da Linhagem X?
— É o que eu pensava que queria. Mas o que eu queria de verdade — ele sorriu — era você.
Ela se inclinou para beijá—lo, e ele se foi. Ela apoiou a mão em seu peito.
— Eu te alcanço mais tarde.
***
Julho de 1996
— Imagino que vocês estejam aqui para a Columbia Cup, meninos…
Will e Dave se mexeram, incomodados, perto da viatura policial.
— Bom… foi — Will respondeu.
— A gente estava caminhando ali, seguindo a margem, — disse Dave — mas o senhor pode ver como o barranco desce até a água, então estávamos contornando por trás, esperando o início da corrida de hidroplanos.
O rapaz de 19 anos apontou para um ponto que ficava três metros adiante.
— Meu pé bateu numa pedrona redonda, — disse Dave — que eu achei meio estranha. Então me abaixei e peguei. Parecia uma grande pedra lisa e marrom, mas então percebi que tinha dentes.
— Imaginamos que era um antigo túmulo indígena que a água desenterrou. A corrida final já ia começar, então escondemos aquilo nos arbustos — falou o amigo de 21 anos. — Nós sabíamos que estaria segura lá. Quando íamos para casa, lá pelas cinco horas, eu disse que precisávamos dar essa caveira para alguém, e contar onde encontramos.
Ele deu ao policial um balde branco.
O oficial puxou o crânio para fora.
— Não sei não, meninos. A maioria dos túmulos indígenas ficavam acima do nível do solo, e este é obviamente o crânio de uma pessoa branca.
Ele examinou com cuidado.
— Notavelmente escurecido, entretanto. Deve ter ficado enterrado por muito tempo.
Ele colocou a caveira de volta no balde.
— Vamos marcar o local e trata—lo como uma cena de crime, por enquanto. Pode ser um túmulo não marcado de um antigo colonizador.
— O senhor precisa de mais alguma coisa?
— Não, podem ir para casa. Anotei seus nomes e endereços, caso precise falar com vocês.
A dupla caminhou em direção ao estacionamento. Dave voltou—se para Will:
— No final das contas, eu diria que tivemos um dia legal.
— Sim, o clima estava bom e as corridas foram iradas. O único problema foi quando encontramos aquela caveira e tivemos que procurar aquele cana em Kennewick, cara.